Uma colméia de boas ações
O voluntariado melhorando a disposição vital de senhoras voluntárias
Por Gabriela Olmos Duarte
Há 25 anos (1985) surgia em Campinas o Grupo de voluntárias Maria Teresa, com o intuito de realizar um trabalho voluntário para ajudar crianças com câncer. O grupo teve sua formação alguns anos depois da fundação do Centro infantil Boldrini (Hospital filantrópico para crianças com câncer e hemopatias), localizado também em Campinas.
Maria Teresa Lisboa Martins, “Após sofrer as perdas do marido e do filho, ambos com leucemia, ela decidiu fundar o grupo de voluntárias”, afirma Fernanda Engler, amiga da fundadora e membro do grupo desde sua formação. O grupo que a princípio começou trabalhando para o Boldrini, trabalha atualmente em prol da APACC e da Creche Menino Jesus de Praga.
A APACC (Associação de pais e amigos da criança com câncer e hemopatias) é um núcleo de apoio para alojar crianças e adolescentes vindos de toda a America Latina. Já a creche, atende crianças que estão em situações de vulnerabilidade sócio-econômica. A Menino Jesus de Praga passou a receber metade das arrecadações feitas pelas voluntárias (considerando que a outra parte vai para a APACC) após ceder ao Grupo de voluntárias Maria Teresa um espaço para sediarem suas reuniões e bazares beneficentes.
A ação do grupo traz lembranças dos anos 70, época em que a sociedade começou a atuar de forma ativa frente aos problemas comunitários. De acordo com o artigo “Voluntariado: tendência de crescimento?”, publicado em 2001 por Walter de Tarso de Campos e Antonio Bara Bresolin, no Caderno FUNDATA (Banco de Dados das Fundações de Direito Privado e Público e das Entidades de Interesse Social), as pessoas, ao refletirem sobre o novo comportamento do Estado na época, passaram a pensar sobre suas atuações em relação ao conjunto. As ações de órgãos governamentais, juntamente com as de senhoras católicas da elite brasileira, estimularam a assistência à população carente.
Atualmente o grupo conta com a participação de 20 senhoras, quatro das quais fazem parte desde a primeira formação. Muitas delas já se conhecem de “outros carnavais”, como afirma Norma Fernandez Olmos. Após a brincadeira ela relembra de alguns momentos que passou ao lado de outras quatro, que ali também estavam, em reuniões muito parecidas com essa, no extinto Lions Club Sul. Norma relata que com o fechamento do clube, ela e as outras quatro vieram imediatamente fazer parte do grupo de voluntárias, do qual algumas amigas já faziam parte.
O grupo de voluntárias se reúne às terças-feiras, às 14:30, no salão da paróquia Menino Jesus de Praga e, então, mãos a obra. Algumas fazem trabalhos manuais, outras cuidam das finanças e tem até gente já falando do próximo bazar. Os bazares são realizados a cada 3 meses; são eventos chamados de ‘Chá e Bingo’. Todos os trabalhos manuais, feitos por elas (nas reuniões ou até mesmo em suas casas, como preferirem), serão posteriormente comercializados nesse bazar.
Em um ambiente animado e descontraído, a reunião não visa apenas o trabalho voluntário: é acima de tudo um momento para “espairecer”, como afirma Dagmar Wisockas. Dagmar é psicóloga, faz parte do grupo há 22 anos e é a mais nova da turma. É uma das poucas, se não a única, que atualmente trabalha fora. Ao chegar ‘atrasada’ para a reunião logo destaca: “Eu tinha apenas trinta minutos de descanso, estou atolada de coisas para fazer, vou trabalhar até a noite, mas não podia deixar de vir, gosto de vir aqui para espairecer”. Chega em boa hora, o café da tarde está na mesa. É um ritual para elas, a cada encontro é a vez de uma trazer o lanche da tarde.
A fundadora Maria Teresa, ao ser questionada sobre todo o trabalho que têm com o seu cargo, afirma: “Eu coordeno, mas tenho também minhas ajudantes. Duas são as tesoureiras e quatro são as chaves”. As chaves são aquelas para quem Maria Teresa relata tudo o que irá acontecer e essas passam os recados a diante, facilitando para que ela não se sobrecarregue. Em seguida Norma Olmos faz outra feliz colocação: “Nós trabalhamos em grupo, trabalhamos de verdade e trabalhamos duro, somos as ‘abelhinhas’.” E após algumas risadas alguém afirma que esse codinome foi criado entre elas, fazendo referência às abelhas, por essas trabalharem ‘duro’. Norma volta a brincar e reafirma que o grupo deveria se chamar ‘Abelhinhas’.
Maria Alice Galo ocupa atualmente o cargo de tesoureira; ela está no grupo desde a formação. Há 27 anos está no voluntariado. Começou fazendo trabalho com crianças no Boldrini a convite de uma amiga, cujo o filho teve leucemia e posteriormente se curou. Se apaixonou pelo trabalho e vem se dedicando a ele cada dia mais. “Hoje o grupo além de ser um grupo de voluntárias, se tornou um grupo de amigas, é algo social na nossa vida, a gente se diverte muito quando estamos aqui. Conversamos bastante, é um tempo nosso”.
O voluntariado não é apenas uma boa ação. É uma ocupação, oportunidade de integração com a comunidade e com pessoas de mesmos princípios.
As ‘Abelhinhas’ não estavam a vontade em falar sobre suas idades, ao serem questionadas sobre quem é a mais velha e a mais nova, alguém ao final da mesa rapidamente indaga, “Não vai querer saber a nossa idade, né?”. E com risos encerram o assunto.
Algumas pensionistas, poucas aposentadas. Das que estavam presentes, apenas uma trabalha; a maioria é católica. É raro de se encontrar um grupo como esse, a cena vivida semanalmente no salão da paróquia Menino Jesus de Praga nos remete instantaneamente aos anos 70, e vale lembrar que, naquela época, não havia ainda a grande necessidade de trabalho voluntário que há hoje. A psicóloga Dagmar afirma que “O voluntariado faz muito mais bem a nós do que nós podemos fazer a ele (…) aqui a gente aprende muito, conversa, se doa e aprendemos a respeitar e a ouvir o outro acima de tudo”.